quarta-feira, 14 de agosto de 2013

EM CIMA DO MURO

Ficar em cima do muro é expressão geralmente usada para definir o comportamento de uma pessoa que: ou não sabe qual é sua própria opinião, ou, o que é mais freqüente, não tem coragem de assumir a sua própria opinião. Quem fica em cima do muro quer agradar aos dois lados, freqüentemente assumindo uma postura que o faz parecer sempre “adequado”, independentemente do ponto de vista de quem o observa. Não quer desagradar a ninguém. Não quer ser opor a nenhuma opinião. Quer servir a dois deuses, mesmo que antagônicos em suas doutrinas, e ser benquisto e abençoado por ambos. Quem fica em cima do muro muitas vezes abre mão de crenças e certezas que freqüentemente definem sua própria personalidade, “lavando suas mãos” enquanto se equilibra com destreza sobre sua estreita borda.
No entanto, velhos dizeres podem adquirir novos significados e uma abrangência inusitada nesses tempos modernos, quando a própria lógica das idéias que se defende é subvertida a todo instante, em uma constante redefinição de valores. O muro talvez não esteja mais tão bem definido como antes, um poleiro para os que temem em defender e assumir compromissos ideológicos em geral. Agora ele também funciona como uma espécie de porto seguro, o galho mais alto de uma árvore, onde uma pessoa consegue refúgio diante das opiniões reacionárias que atualmente permeiam as discussões polêmicas, de ambos os lados, principalmente nas redes sociais.
São duas as situações que podem instigar no cidadão o desejo de correr para cima do muro: ou nenhuma das opiniões vigentes o representa, ou aquela que o representa é colocada de uma maneira tão doutrinária e impositiva que o faz recuar em sua posição, em respeito ao seu próprio direito de escolha e decisão, ainda que ele próprio possa concordar com a opinião em sua essência. A forma de apresentar a idéia acaba contaminando o conteúdo que ela carrega, comprometendo até mesmo sua mensagem. Um discurso promovendo o respeito ao próximo, ou a paz, mas proferido em tom ditatorial e agressivo, acaba por afastá-lo de seu objetivo primordial e razão de ser.
Vou ser mais claro: se eu sou partidário de determinada opinião, eu não preciso que alguém me a imponha. O caminho que me fez chegar a ela foi de reflexão, e não de imposição. Ter alguém exigindo, com palavras de ordem, a minha adesão a uma idéia, fatalmente vai provocar um efeito contrário. Veja bem, a minha opinião sobre o assunto continuará a mesma, mas me retiro ascendentemente rumo ao muro porque não consigo dar razão a qualquer idéia apresentada dessa forma impositiva. Uma idéia assim apresentada não me representa, mesmo que eu concorde com ela. Principalmente nesse dias atuais, onde todo mundo parece se sentir orgulhoso de ser radical em suas opiniões, como se isso conferisse força e respeito à sua personalidade, e autenticidade às suas reivindicações.

Exemplo concreto: dias desses, em uma rede social, uma pessoa postou que, se alguém fosse contra a idéia que ele estava defendendo, então que avisasse porque ele iria excluí-la de seu grupo. Eu até concordava com a opinião por ele defendida, mas me senti bem incomodado com as coisas postas daquela maneira. E esse tipo de situação já aconteceu com mais de uma pessoa. E não parece que vai parar.