Ficar em cima
do muro é expressão geralmente usada para definir o comportamento de uma pessoa
que: ou não sabe qual é sua própria opinião, ou, o que é mais freqüente, não
tem coragem de assumir a sua própria opinião. Quem fica em cima do muro quer agradar
aos dois lados, freqüentemente assumindo uma postura que o faz parecer sempre “adequado”,
independentemente do ponto de vista de quem o observa. Não quer desagradar a ninguém.
Não quer ser opor a nenhuma opinião. Quer servir a dois deuses, mesmo que antagônicos
em suas doutrinas, e ser benquisto e abençoado por ambos. Quem fica em cima do
muro muitas vezes abre mão de crenças e certezas que freqüentemente definem sua
própria personalidade, “lavando suas mãos” enquanto se equilibra com destreza
sobre sua estreita borda.
No entanto,
velhos dizeres podem adquirir novos significados e uma abrangência inusitada nesses
tempos modernos, quando a própria lógica das idéias que se defende é subvertida
a todo instante, em uma constante redefinição de valores. O muro talvez não
esteja mais tão bem definido como antes, um poleiro para os que temem em defender
e assumir compromissos ideológicos em geral. Agora ele também funciona como uma espécie
de porto seguro, o galho mais alto de uma árvore, onde uma pessoa consegue refúgio
diante das opiniões reacionárias que atualmente permeiam as discussões
polêmicas, de ambos os lados, principalmente nas redes sociais.
São duas as
situações que podem instigar no cidadão o desejo de correr para cima do muro:
ou nenhuma das opiniões vigentes o representa, ou aquela que o representa é
colocada de uma maneira tão doutrinária e impositiva que o faz recuar em sua
posição, em respeito ao seu próprio direito de escolha e decisão, ainda que ele
próprio possa concordar com a opinião em sua essência. A forma de apresentar a idéia acaba
contaminando o conteúdo que ela carrega, comprometendo até mesmo sua mensagem.
Um discurso promovendo o respeito ao próximo, ou a paz, mas proferido em tom
ditatorial e agressivo, acaba por afastá-lo de seu objetivo primordial e razão
de ser.
Vou ser mais
claro: se eu sou partidário de determinada opinião, eu não preciso que alguém
me a imponha. O caminho que me fez chegar a ela foi de reflexão, e não de
imposição. Ter alguém exigindo, com palavras de ordem, a minha adesão a uma
idéia, fatalmente vai provocar um efeito contrário. Veja bem, a minha opinião sobre
o assunto continuará a mesma, mas me retiro ascendentemente rumo ao muro porque
não consigo dar razão a qualquer idéia apresentada dessa forma impositiva. Uma
idéia assim apresentada não me representa, mesmo que eu concorde com ela. Principalmente
nesse dias atuais, onde todo mundo parece se sentir orgulhoso de ser radical em
suas opiniões, como se isso conferisse força e respeito à sua personalidade, e
autenticidade às suas reivindicações.
Exemplo
concreto: dias desses, em uma rede social, uma pessoa postou que, se alguém
fosse contra a idéia que ele estava defendendo, então que avisasse porque ele
iria excluí-la de seu grupo. Eu até concordava com a opinião por ele defendida,
mas me senti bem incomodado com as coisas postas daquela maneira. E esse tipo
de situação já aconteceu com mais de uma pessoa. E não parece que vai parar.