terça-feira, 24 de abril de 2012

Supermercado: a missão

Ah!! Os supermercados!!!! Representantes passivos da modernidade inquieta, marcam presença em nosso cotidiano com seus corredores atulhados de produtos dos mais variados tipos, das mais variadas marcas, nas mais variadas cores. Corredores atulhados de pessoas dos mais variados tipos, buscando pelas mais variadas marcas, portando humores nas mais variadas cores. Um lugar por onde desfilam carrinhos transbordantes, quase sempre apressados, guiados com arrojo por humanos atentos ao mesmo tempo ao caminho e ao conteúdo das prateleiras. Local privado onde se reúnem todas as raças e credos, a pluralidade humana homogeneizada em um único desejo/necessidade: consumir.
Quase sempre muvucados, os supermercados trazem dentro de seus limites um retrato fiel do mundo contemporâneo que nos rodeia: filas, pressa, promoções, ofertas, encontros, desencontros, conversas rápidas e muita paciência. Á fórceps, abrimos espaços em nosso precioso e escasso tempo para estarmos lá, abastecendo-nos de necessidades e frivolidades. Sobre o tempo, podemos dizer que, nos supermercados, ele se comporta de maneira estranha, acelerando-se proporcionalmente à pressa que se tem.

Dia desses, eu, vendo a geladeira e o armário vazios, conclui que era a hora. Tinha de ir ao supermercado. Na manga, um pequeno truque: eu comprava em um supermercado que ainda não tinha sido descoberto pela massa urbana, e que possuía variedade e bons produtos. Ou seja, um bom supermercado que se mantinha quase sempre vazio. Não acredita que isso exista? Mas existia (pelo tempo verbal vocês já podem perceber que o esquema gorou). Desse supermercado eu não falava com ninguém, mantinha-o sob segredo de estado. Deixava os troux . . . que dizer, as pessoas, continuarem indo a um outro que havia por perto, bem maior e mais vistoso.
Bom, então eu entrei no carro e saí de casa rumo ao supermercado, feliz em ser detentor daquele segredo sagrado. Já me imaginava, carrinho cheio de produtos, caminhando imponentemente por um tapete vermelho, sem ninguém à frente, até o caixa, que me receberia com um sorriso cordial. Assobiando, eu entrei no estacionamento.
Parei abruptamente. O assobio foi morrendo em um decrescente cômico.
O estacionamento estava completamente lotado.
(Pausa longa)
Puta que o pariu!! Quem era todo aquele povo no MEU supermercado?! Desci do carro e fui bufando até a porta de entrada. Carrinhos, aos milhares (por favor, respeitem meu drama!), digladiavam-se pelos corredores, confundindo-se e misturando-se aos que já aguardavam nas filas de proporções quilométricas dos caixas. Quem havia sido o X-9 filho da puta que havia dado a letra do canal pra aquele povo todo? Por um tempo eu fiquei em pé, parado, só acompanhando com os olhos o entrar e sair da multidão. Pensei em subir em um balcão e, em alto e bom tom, organizar melhor aquela bagunça. Primeiro passo: dividir quem viria na segunda-feira, quem viria na terça, na quarta, e assim por diante, dividindo os horários para cada dia, evitando assim aquela aglomeração absurda. Segundo passo: ignorar a reclamação daqueles que diziam não poder vir no horário determinado. Terceiro passo: expulsar os reclamantes do supermercado. Quarto passo: confraternizar com o pessoal gente boa que ficasse.
Caindo na real e derrotado, sem vontade para encarar a situação, caminhei lentamente até o meu carro. Antes de sair, dei uma última olhada para trás. Era hora de seguir em frente, em busca de um novo supermercado.

https://steemit.com/pt/@juniordionesio/supermercado-a-missao

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