Estou declamando poesias para um
bando de anões estéreis, que não queriam saber mais de alimentar o papagaio.
Também, ele os chamara de “bundilhões”. E tudo isso por causa do pai do poeta
,que, sempre que podia, saía de casa para jogar carta e comer moela de ganso com seus amigos. A questão,
no entanto, é inoportuna! Por que eu vejo anões? Deve ser culpa dos meus olhos e
. . . bom, de qualquer maneira, e sem fugir da conversa, isso jamais teria
acontecido se, conforme o combinado, já estivessem nascendo as malditas penas
transparentes nas árvores que eles haviam plantado em meu jardim.
Mesmo assim, ainda
ontem o poeta me disse que pretendia comprar dois grandes peixes muito grandes
para deixa-los no armário até que pudéssemos comprar um aquário. Eu,
prontamente, discordei de tamanha presunção. Não que eu fosse sempre assim,
discordante, mas concordo que peixe no armário é coisa de anão. Esses dias ainda
alguém me disse alguma coisa, que eu não me lembro muito bem o que era . . . só
sei que tinha peixe no meio . . .ah! me lembrei: alguém falou que o melhor
tempero pra peixe cru, ou até mesmo podre, era o pó de uma raiz marinha chamada
Ayhaterani. E como a
corda sempre estoura quando mordida, aquela conversa toda acabou me presenteando
com uma sufocante fome!!! Comi suspiros e tossi muito com o farelo, que saiu-me
pelo nariz junto com o ar e misturou-se á brisa que,vinda do jardim, perfumava
toda a sala.
Todavia, tomei a frente do encontro e
contei eu mesmo vários contos e poesias até que me faltou a palavra. Foi
quando eu comecei a pôr fogo no cabelo dos anões. Utilizava uma tocha, que
acendera lá fora, na fonte de lava. É!!! Tinha uma fonte de lava no meio do
jardim dos anões! Á noite, os vaga-lumes pousavam nela e lagartos metálicos a
comiam com capim, muito capim. Mesmo porq. . . Opa! Me lembrei de uma coisa:
havia roupas secando no porão da casa dos anões. Roupas molhadas pelas chuvas
que vinham da tempestade de poesia semeada pelo poeta. Malditas roupas!! Não
deixavam que o corpo absorvesse o fogo dos cabelos, já completamente queimados
naquele imenso expiar de pecados. Fizeram então, todos, uma promessa. Nunca mais tomariam banho ao acordar. Minto. Só quando estivessem sujos de sangue coagulado de olho de papagaio. Então, a história de repente mudou. Agora era o poeta que se apresentava sob uma auréola discordante, pois não concordava sequer em discutir a possibilidade de alguém ensina-lo a ser plantador, coisa que todos, na época de colheita das idéias, aquiesceram como sendo a única maneira dele pagar por tudo que escrevia. Mas um grande medo o perseguia desde que viajara para a gruta onde seu pai morava com seus patos e gansos: o de suas plantações ficarem estéreis de tanto olho gordo que aqueles anões iriam colocar. Também, ele os chamara, assim como o papagaio, de “bundilhões”!! Bom, de qualquer maneira, eles nunca comeriam os frutos do seu esforço. Continuariam comendo apenas seus ovos de papagaio, sempre misturado com peixe, muito peixe. Mas ainda assim continuariam felizes. . . muito mais que o poeta!