quinta-feira, 25 de julho de 2013

É NÓIS NA EUROPA - ALEMANHA - FINAL


A última fase da nossa viagem começou com 5 horas de espera no aeroporto de Frankfurt, vindos de Praga e querendo chegar a Stuttgart (ou Estugarda, como dizem os portugueses). Quando finalmente chegamos, a Preta, prima da Jô, estava nos esperando no aeroporto junto com uma amiga também brasileira. Nos próximos dias conheceríamos ainda outros brasileiros de Stuttgart, nos jantares que as primas da Jô – Marcinha, Eliane e Preta – organizaram para nos reunir com seus amigos. As três já vivem a mais de uma década na Alemanha, e estão completamente adaptadas ao país, com marido, filhos, sogra, sogro, sobrinhos, etc.
Ficamos na casa da Marcinha, em Göppingen, uma pequena cidade a 20 minutos de carro de Stuttgart. Assim que chegamos, uma geladeira cheia de cerveja foi escancarada para que eu me servisse à vontade. Mais um vinho aqui e outro acolá e fui dormir um sono perfeito.
No dia seguinte, acordamos cedo para aproveitarmos bem o dia. A idéia era conhecer a região em um raio de 200 km ao redor de Göppingen, ao ritmo de uma cidade por dia. Como locomoção, a Marcinha gentilmente fez questão de emprestar seu carro. Conosco ia também o Fernando, irmão por afinidade das três, que estava por lá esperando sair o seu visto de trabalho. Sem perder tempo, saímos em direção à Heidelberg.
Como eu ainda conhecia pouco da dinâmica do trânsito nas estradas alemãs, pedi para o Fernando ir levando o carro naquele dia. Chegamos a Heidelberg em pouco mais de uma hora. Depois de caminhar alguns minutos por uma looooonga rua cercada de prédios históricos, chegamos finalmente à praça central da cidade. 
 A composição visual ali era como a de muitas pequenas cidades históricas da Europa: uma igreja antiga e muito bonita, as mesas dos restaurantes espalhadas pelas calçadas, e um chafariz secular dando o toque final. Mas se você olhar para cima, atrás do chafariz, verá , no alto de uma colina, a maior atração da cidade: o castelo
 Decidimos não usar o funicular e aproveitarmos para gastar mais algumas calorias subindo a colina. São mais de 300 degraus até a entrada do Castelo, passando por uma pequena floresta salpicada aqui e ali por fantásticos casarões de pedra. Á medida que se sobe a vista da cidade lá embaixo vai ficando cada vez mais impressionante. Há vários lugares pelo castelo de onde se tem fotos de cartão postal com a cidade antiga lá embaixo e a ponte secular sobre o rio Neckar.
 A área externa do Castelo é enorme, muito grande mesmo. E está tudo semi-destruído, devido a guerras com a França no séc. 17, quando os canhões dos navios franceses posicionados no rio Neckar atingiram suas torres e muros. Mas o acesso ao pátio interno é pago, e ao interior do castelo um pouco mais, mesmo porque havia uma guia. Decidimos conhecer tudo. Na bilheteria, fiz algumas perguntas em inglês à atendente, que de repente começou a falar em português comigo. Perguntei como ela sabia que eu era brasileiro, e ela me respondeu que brasileiro falando inglês tem um sotaque inconfundível.



 Entramos no grande pátio interno e realmente é muito bonito; a “colagem” arquitetônica, com toques de ruína, é fantástica. Um vídeo 360º faz você passar por todas as épocas arquitetônicas do castelo, em sequência.



 Então, uma pequena porta se abriu e fomos convocados para o tour dentro do castelo, que durou + ou – uma hora. A história interessante é que na idade média, naquela região, a água era muito impura e contaminada, e muitos consideravam mais seguro beber vinho. Sendo assim, a maior parte da água que a população consumia vinha do vinho ou da cerveja, mesmo para as crianças. Inclusive, no castelo há um barril de vinho que é considerado o maior do mundo (e que nós conhecemos depois). Bem legal também são as enormes urnas de cerâmica onde eram colocadas as brasas para aquecer os quartos.
 Saímos então para dar um rolê no entorno do castelo, que é gigantesco e com longos passeios arborizados. O fosso foi transformado em um enorme jardim e também dá pra descer até lá e caminhar dos fundos até a frente do castelo. No caminho vimos uma torre bem larga, enorme, que havia sido partida ao meio pelos canhões, como a casca de um ovo; um pedaço havia ficado de pé, o outro tombou sobre o fosso. 

 Depois fomos até a ponte, na cidade, e tiramos fotos do portal e do castelo visto de lá. Tinha ainda outras trilhas que podiam ser feitas do outro lado do rio, mas já estava tarde e ainda tínhamos que encontrar uma cervejaria tradicional para tomar umas brejas. Foi a nossa despedida de Heildelberg. 

 No dia seguinte partimos, dessa vez apenas eu e a Jô, em direção à Estrasburgo, 150 km de distância, na França. Iríamos passar dois dias lá e mais um dia em Worms, mais ao norte. Mas as coisas não foram bem assim. O carro quebrou na nossa mão e ficamos apenas quatro horas em Estrasburgo, que é bonita pra caramba. Os hotéis estavam lotados e onde havia quarto livre o preço estava fora do nosso orçamento. Bom, pelo menos conseguimos apreciar a Catedral de Estrasburgo, de longe a mais impressionante de toda a viagem.

 
Voltamos de trem para Stuttgart, e naquela noite dormimos na casa da Eliane, em uma região campestre e de certa altitude, onde neva primeiro quando o inverno chega à Alemanha.
O dia seguinte foi de descanso. Acordamos mais tarde e demos uma volta na pitoresca cidadezinha próxima à casa da Eliane, praticamente um vilarejo, chamado Hohenstein.
 
Um restaurante com a placa Bierhaus atraiu irresistivelmente o meu olhar e minhas pernas começaram a ir praticamente sozinhas naquela direção. Algumas brejas e salsichas, bate-papo com a dona do restaurante (na Alemanha quase todo mundo fala inglês), e voltamos para casa, porque mais tarde a Preta faria um jantar especial na casa dela, com pratos típicos da Alemanha (e que foi muito gostoso, muita comida e bebida!). Aproveitamos a tarde para já deixar reservado um carro para o dia seguinte logo pela manhã. Nosso próximo destino: Rothemburg ob der Tauber.
Agora atrás do volante de um possaaaante Pólo (completinho, por 33 euros a diária) segui a 200km/h, pé no talo, pelas famigeradas Autobans, tapetes de asfalto onde placas com o desenho de um círculo cortado indicam os trechos em que não há limite de velocidade e a potência do motor é o limite.
Chegamos a Rothemburg e deixamos o carro encostado na muralha da cidade medieval. Rothemburg é uma cidade de vários ambientes, várias pequenas praças escondidas entre suas ruas tortuosas. A cidade deve ter umas cinco entradas, cada uma delas guardada por uma Torre, todas diferentes entre si, e pode-se dar a volta na cidade caminhando sobre suas muralhas.


 Passamos pela praça da prefeitura e estava rolando uma feirinha de produtos locais, inclusive antepastos e conservas. Compramos camarão no azeite, antepasto de berinjela e alcachofra recheada, um pote de cada, e mais duas baguetes. 
 
No restaurante ao lado pegamos uma garrafa de cerveja escura amarga. Atravessamos a cidade e saímos do outro lado, em um mirante onde se tinha uma vista bem legal dos campos e vinhedos ao redor das muralhas. Ali fizemos nosso “lanche”. 
Depois seguimos caminhando pelos vinhedos, sempre ladeando as muralhas: tanto fora quanto dentro delas, tudo é muito bonito e idílico. Rothenburg é muito bem cuidada, com suas casas impecáveis no estilo enxaimel e flores da estação nas janelas. Também tem um relógio na praça onde a cada hora acontece um espetáculo com bonecos. E doces que louvam com hosanas o nobre pecado da gula (naquela noite passei algumas horas no banheiro por conta disso). 






 Voltamos já era noite e quando chegamos à casa da Marcinha a festa já estava armada. Casais de amigos, brasileiros e alemães, foram convidados para uma feijoada caprichada. Comemos, bebemos, bebemos e demos muitas risadas. No meio das conversas, uma sugestão inesperada que se transformaria no nosso roteiro para o dia seguinte: o Castelo Hohenzollern.
 
O Castelo fica no alto de uma colina, a única em uma enorme planície, e por isso ele pode ser avistado de bem longe, dominando toda a paisagem (são 900 metros de altura da planície até o topo da colina). O castelo é imponente, com várias torres pontiagudas e um pátio enorme que rodeia todo o seu perímetro; nesse pátio estão as estátuas de todos os nobres e reis que o ocuparam ao longo dos séculos. A planície vista lá de cima é espetacular. Decidimos não fazer a visita ao interior, pois já iríamos fazer isso em Neuschwanstein.


 Na volta, vimos uma placa na estrada dizendo que a cidade de Rottweill estava a meros 30 km dali. Essa foi a cidade que desenvolveu a raça dos Rottweiller, que aprendi a gostar e admirar, pois na casa dos meus pais havia o Joe, cachorro do meu irmão, que deixou muitas saudades. E foi em homenagem a esse amor que todos nós tivemos pelo Joe que mudamos o rumo e fomos até lá. De lembrança para o meu irmão, eu trouxe uma foto da estátua na praça central da cidade, sob a qual está escrito “O Rottweiller”.


 
O dia seguinte amanheceu beeeem frio, com uma chuva fininha que “ajudava” ainda mais. Dessa vez foram conosco a Marcinha e o “figura” do Davi, seu filho de cinco anos. Com todos devidamente encapotados, saímos rumo ao Castelo de Neuschwanstein.
Conhecido também, no linguajar turístico, como o Castelo da Bela Adormecida (Walt Disney baseou-se nele para construir o castelo que está na Disneylândia), o Castelo de Neuschwanstein excede em muito a essa referência, que é puramente comercial e só serve para transformá-lo em uma Atração turística com “A” maiúsculo (é um dos mais populares destinos turísticos europeus).
Neuschwanstein foi o castelo dos sonhos de um rei louco, Luis II da Baviera, mas também sua prisão e seu túmulo. Desde a infância encantado com as sagas e heróis da época medieval, Luis II resolveu ter seu próprio castelo medieval, em pleno século XIX. E ali ele viveu seu sonho de contos de fadas até ser encontrado morto, após perder o trono por ter sido considerado demente.
Entramos no castelo (grupos e horários pré-agendados) no exato instante em que a chuva começou a apertar. No grupo havia umas quinze pessoas, sendo que, curiosamente, um casal fez toda a visita vestindo roupas da época, alugadas no próprio local. No interior do castelo, as paredes de todas as salas, quartos e salões são quase que inteiramente cobertas por impressionantes desenhos hiperrealistas baseados nas lendas medievais germânicas. Pena não poder tirar fotos, porque é tudo muito incrível.
Saímos do tour e fomos caminhando até a ponte Marienbruck, onde se tem o visual de cartão postal do castelo. 

 A chuva havia parado e a natureza dado o seu toque de mágica:  com o frio intenso, a água já caiu sob a forma de neve nas montanhas mais altas, cobrindo os picos como um manto, e as árvores próximas a eles como açúcar de confeiteiro. O visual ficou realmente impressionante, e nós continuamos na estrada rumo a Áustria, onde as montanhas dos Alpes Austríacos também estavam cobertas de neve. Plus da viagem.
 Em nosso último dia na Alemanha (e na Europa), fomos conhecer Stuttgart, o que foi bem rápido, porque é uma cidade grande e não tem muito pra ser visto. Depois, fomos até Ulm (a pronúncia certa desse nome é um exercício de contorcionismo pra língua), visitar a igreja mais alta do mundo (163 metros). Por último, a última refeição: um delicioso joelho de porco, todo pururuca.

 À noite pegamos o que sobrou de dinheiro, em “cash”, e fizemos uma “compra do mês” na Alemanha: vinhos, chocolates, embutidos, condimentos, enlatados, o foco era tudo aquilo que não se achava no Brasil. Como o limite de peso são duas malas de 32kg por pessoa, fizemos a festa (hoje, à essa altura do campeonato, já foi tudo devidamente degustado e apreciado).
Aqui termina o relato dessa viagem à Europa, que foi tão especial pra gente. Na verdade, somente poucos dias depois, já no Brasil, foi que caiu a ficha em relação à real dimensão da viagem que havíamos feito. Foi quando também já começamos a sentir muitas saudades. . .







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